Olá leitores do Blog Zona Vermelha, como prometido hoje vim trazer uma análise do trabalho do fotógrafo que apresentei a vocês na semana passada. Então, se você não conhece Sebastião Salgado pare aqui! Mas calma, quero que você continue depois, tá? Hahaha é que primeiro você precisa ler o meu texto anterior onde introduzo sobre a biografia dele e deixo alguns questionamentos - O Sal da Terra: Sebastião Salgado.
Certo, sem dúvidas, Sebastião Salgado é uma figura admirável no mundo da fotografia. Entretanto, é necessário especular sobre suas obras que rotineiramente carregam o foco na fotografia da dor. A imagem abaixo (e também do post), faz parte da série intitulada "Êxodos", na qual o fotógrafo viajou por quarenta países registrando angustiantes imigrações num período de seis anos. Além de imigrações, o acervo conta com categorias específicas mostrando imagens de refugiados, migrantes e crianças que foram vítimas do medo das guerras.
Campo de refugiados ruandês de Bamako, na Tanzânia (1994).
Como evidencia a legenda, a foto anexada trata-se de um campo de refugiados na África, onde Salgado se dirigiu após saber do conflito entre os hutus e os tutsis. O genocídio assustava o povo de maneira que milhões deixaram para trás Ruanda e foram para acampamentos assim: precários, sem mínimas condições básicas de vida.
Dado esse contexto, quero apresentá-los outro nome importante das teorias da imagem: Susan Sontag. Ela foi, entre outras coisas, crítica de arte nos Estados Unidos dos anos 60 aos 2000. Morreu em 2004 com 71 anos de idade e nos deixou um vasto acervo de escritos sobre fotografia, cultura e mídia. Cito ela pois vou usar referências do seu livro: Diante da Dor dos Outros (2003).
A autora faz uma importante abordagem nesse sentido acerca das cenas de horror, por que vemos essas fotos? O livro tem uma série de questionamentos do tipo que colocam em xeque a ética do fotógrafo e a nossa própria. A perspectiva da sociedade do espetáculo aponta que toda situação tem de se transformar em espetáculo para ser interessante, logo o trabalho de Sebastião Salgado relaciona-se com isso na medida em que uma foto bela desvia a atenção do tema e do contexto retratado. Cada vez mais câmeras registram o sofrimento que em instantes é compartilhado e depois simplesmente esquecido, afinal é uma linguagem de que todos são donos.
O produto de Salgado pode ser analisado dessa forma uma vez que a própria Sontag cita o fotógrafo em determinado momento do livro, fazendo uma ligação com a objetificação que uma foto causa. Dessa percepção entendemos que a foto transforma o sentimento em objeto, e depois a foto se transforma em arte. Logo, a crítica a Sebastião Salgado parte do ponto de que em suas fotografias, ele faz da pobreza, arte.
“O fluxo incessante de imagens (televisão, vídeo, cinema)
constitui o nosso meio circundante, mas, quando se trata de
recordar, a fotografia fere mais fundo”.
O trecho acima, de Sontag, expressa um dos motivos que me fez escolher a foto de análise, juntamente da reflexão de como é mais fácil ver crueldade em povos “exóticos”, de pele mais escura, do que em em povos que nos são familiares, tudo isso pelo registro de uma fotografia.
Luana Martins
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