Como recentemente postamos um vídeo sobre Charles Manson, sua seita e seus crimes. Hoje eu trouxe um filme que faz alusão aos acontecimentos relacionados a ele que é Era uma vez… em Hollywood - 2019. Se você ainda não viu lá no canal do Zona Vermelha, aconselho você a ir assistir clicando no link abaixo e depois voltar aqui para uma experiência completa.
https://youtu.be/5AY2s_DOAdU
Era uma vez… em Hollywood foi roteirizado e dirigido por Quentin Tarantino, possui um elenco de peso que conta com: Leonardo DiCaprio, Brad Pitt, Margot Robbie, Dakota Fanning e Al Pachino. Foi indicado a dez Oscars, vencendo o de Melhor Direção de Arte e de Melhor Ator Coadjuvante para a interpretação de Brad Pitt.
Antes de assistir o longa, é preciso saber alguns fatos, o principal é sobre o Charles Manson e sua seita, eles viviam em um rancho em Los Angeles que era um antigo set de filmagens e também assassinaram brutalmente a atriz Sharon Tate e seus amigos em agosto de 1969. Tarantino se inspirou nesses acontecimentos reais, porém misturou-os com uma boa dose de ficção e contou a história do seu jeito, como se fosse uma realidade paralela.
Portanto, os personagens principais: Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e Cliff Booth (Brad Pitt) são fictícios e inspirados em várias figuras da década de 50 e 60. Rick é ator de uma série de faroeste, que foi cancelada, chamada Bounty Law e percebe que sua carreira está decaindo cada vez mais. Ele conta com a ajuda de seu amigo Cliff, que era o dublê de Rick em Bounty Law e que atua como faz-tudo do amigo, já que está desempregado.
Como Rick era uma estrela da televisão, ele mora na parte nobre de Los Angeles, e é vizinho do casal Sharon Tate (Margot Robbie) e Roman Polanski (Rafal Zawierucha), que acabou de se mudar. E então o filme gira em torno de Rick, Cliff e Sharon.
O roteiro é sensacional, tanto nos arcos, quanto nas situações, os personagens e os diálogos e tudo isso é bem amarradinho. É característico do Tarantino inserir diálogos que são bem rotineiros e que num primeiro momento parecem não ter sentido estar ali, só que tudo tem um motivo, e esse sinal que ele deixou lá trás vai aparecer mais tarde e vai ter muita importância para a narrativa.
A ambientação é fantástica, conseguimos imergir no final dos anos 60 com facilidade e o trabalho é completo: roupas, cenários, elementos de cena, músicas que tocam no rádio, programas de tv…etc. Sem falar na própria criação dos sets de filmagem que aparecem no filme.
Sobre a trilha sonora é possível perceber que geralmente vêm ou de um rádio, ou televisão, que além de colaborar com a imersão, também dão o tom para a cena. Isso pode ser percebido quando o Cliff está no rancho dos “hippies” e está desconfiado daquela comunidade e do que fizeram com o dono da propriedade, então enquanto ele vai caminhando pela casa indo visitar esse proprietário, ouvimos uma música tensa vinda da televisão que foi ligada momentos antes.
As referências não giram somente em torno de Sharon Tate e a seita de Manson, podemos observar uma grande homenagem ao gênero favorito do diretor: Faroeste. Destaquei isso, pois, esse tributo não está somente na trama, como também aparece muito na fotografia, com os planos, enquadramentos e movimentos clássicos do gênero, e ainda entra nessa brincadeira metalinguística quando o Rick está gravando para uma série (que eu achei genial).
A fotografia ainda usa das cores para trazer uma mensagem. Muitas vezes ela é amarelada, trazendo a ideia de calor e de deserto, por exemplo.
Uma pessoa desatenta pode demorar a entender o ritmo do filme, até porque a montagem é diferenciada com cortes secos do que está passando no momento para uma cena de filme ou programa, ou de um flashback (tendo direito até a um flashback dentro de outro flashback) isso empreende ainda mais o humor ácido de Tarantino.
Gosto da construção dos personagens, principalmente de Cliff e Rick, e a atuação de todos é impecável. Zero defeitos.
Como toda produção Tarantinesca, Era uma vez… em Hollywood também tem violência exagerada e caricata, humor inteligente e sarcástico e com várias referências:
Tem um trecho em que dois personagens estão conversando sobre Tate, falando do fato de que ela desmanchou um noivado para se casar com o Roman Polanski (sim, o diretor de O Bebê de Rosemary, marido de Sharon na vida real também), e que o antigo noivo ainda não desistira da ex porque sabia que Polanski “iria fazer merda”, agora trago um questionamento a vocês: será que essa fala se refere às acusações de abuso sexual de menor (que nunca foi resolvido) que ocorreram anos depois? Levando isso em conta, se a Sharon estivesse viva quando isso aconteceu, o que ela teria feito? Essa última é feita por Tarantino de forma silenciosa.
Só digo mais uma coisa, esse filme é o primeiro que Tarantino não fez com o produtor Harvey Weinstein, já que cortou laços com ele depois que Weinstein foi acusado por diversas mulheres de abuso sexual.
Outra cena interessante é quando os integrantes da seita de Manson resolvem matar alguém e um deles diz: “Vamos matar esses porcos”. Se você não pegou, sugiro que vá assistir o nosso vídeo sobre lá no canal.
A violência fica quase toda na mão do dublê Cliff Buff, e é a violência que entrega o ápice no final, ela é tão exagerada, tão caricata que é muito engraçado. A escolha para finalizar me agrada muito, e a situação na qual o personagem do Brad Pitt se encontra e as coisas que ele diz antes e depois dessa cena exprime todo o deboche do Tarantino para com certos personagens.
Se você ainda não viu, fica a indicação de um filme incrível e se você já viu, que tal ver de novo para perceber os elementos que eu citei aqui? Nos dois casos eu tenho certeza que valerá muito a pena.
Isabela Andrade
Sensacional!!! Parabéns. Seu texto ficou incrível. Já assisti ao filme e pude revê-lo em minha mente enquanto lia sua análise.
ResponderExcluirQue bom que gostou!!
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