Hoje vamos abordar aqui no Zona Vermelha sobre uma série que diferente de Breaking Bad só está começando a sua trajetória, mas que já trouxe alguns aspectos bem interessantes pra gente analisar. Seu nome é The Haunting, da Netflix, que em português podemos traduzir para A maldição, mas não sabíamos disso quando ela lançou, já que seu nome completo era “A maldição da residência Hill” e naquele momento não dava pra saber se a obra seria uma minissérie ou se ela teria uma continuação. Depois de um tempo soubemos que sim, ela não só teria uma continuação, como já estava confirmada. Porém, a série seria antológica. E aí você me pergunta, o que isso quer dizer? Bom, suas temporadas seriam independentes em tema, personagens e não seguiria uma mesma história até sua finalização! Mas então o que faz uma série antológica ainda ser classificada como uma mesma série? É que tudo muda, mas a ambientação é a mesma, a essência do terror, a mansão mal-assombrada, a junção dos temas de terror com os dramas psicológicos e até familiares. São conceitos que a série sempre vai adotar, mesmo que com diferentes histórias.
Séries antológicas podem ser bem interessantes na verdade, você nunca sabe muito bem o que está por vir e pode ser tanto surpreendido, como decepcionado. Na série em questão, até o momento me considero no primeiro grupo, afinal amei sua primeira temporada e na sua segunda que estreou faz pouquíssimo tempo (9 de outubro pra ser mais exato), não me senti nenhum pouco decepcionado, mesmo que não tenha a mesma força que a primeira. A série volta bem a tempo pra época de Halloween, assim como sua primeira temporada que estreou no mesmo período, só que lá em 2018.
É preciso antes de tudo, comentar aqui que terror é um gênero bem complexo, ele pode refletir os medos, anseios e problemas de uma sociedade e não precisa só se resumir a sustos e criaturas maléficas. Muitos se perdem no conceito, querendo fazer o terror ser mais “fácil de engolir” e resumir ele em algo mais palatável pro grande público. Confesso que nem sempre fui um fã assíduo do gênero, mas recentemente ele vem me conquistando cada vez mais, tanto em filmes, quanto em séries. A maldição é uma ótima obra do terror atual, que não se apoia somente nos sustos, ou no horror, ou até mesmo do suspense. A série quer ir além, os elementos de terror tem uma razão para existir, eles fazem parte de uma história que é muito maior e mais complexa, que fala de dramas familiares e angústias pessoais.
PRIMEIRA TEMPORADA
Em sua primeira temporada, Residência Hill, a série é baseada em um livro: A assombração da Casa da Colina, de Shirley Jackson, lançado em 1959, mas há somente algumas propostas parecidas, não é uma adaptação total e a série é atualizada pros dias atuais, além disso também tem referências à várias obras de terror, como O iluminado de Stephen King. Na temporada, a história não é jogada para o espectador de forma fácil, temos um acontecimento bem confuso em sua introdução que envolve essa família e também essa mansão do título, e durante os cinco primeiros episódios temos a história de cada um que faz parte dessa família que é bem disfuncional. Com isso a série entrega enigmas, uma narrativa não linear e uma ideia que poderia cair muito em clichês já bem trabalhados anteriormente, mas que aqui consegue surpreender e ainda divertir o público. O final é justamente tão emocional pra gente por todo investimento que tivemos em sua trajetória e personagens. E não é um final simples de “engolir”, com vários pontos abertos para interpretação.
O visual da série é um primor e o criador e diretor da maioria dos episódios, Mike Flanagan, tem uma estética própria (fica um adendo aqui para que se você não viu filmes dele, veja! Hush – A morte ouve e Jogo Perigoso são excelentes e os dois estão na Netflix, assim como a série, então é bem tranquilo pra assistir.) e bom, quem já viu seus filmes sabe disso muito bem. Aqui a direção de fotografia é muito elegante, as tomadas de direção são realmente geniais e muito bem trabalhadas, o que faz tudo ficar ainda melhor na hora de assistir.
Considero uma das melhores temporadas de séries que eu já vi na minha vida e isso só fica mais claro em um episódio, que não vou falar qual aqui, onde uma reviravolta é revelada e faz você ficar sem saber pra onde ir. E falo isso com total confiança, portanto, recomendo muito que você assista a primeira temporada, mesmo que comece pela segunda, que falaremos mais adiante, pois é realmente uma obra muito bem desenvolvida e que não tem como perder, sendo fã ou não do gênero. Afinal, é uma excelente história, que não dá pra ser resumida só pelo terror que entrega. Uma boa história não tem um público específico.
“Quando eu disse que nunca vi fantasmas, não foi bem a verdade. Eu já vi muitos. Só não da forma como imagina. Eles podem ser muitas coisas. Uma memória, uma fantasia, um segredo, luto, raiva e culpa.” (A maldição da residência Hill)
SEGUNDA TEMPORADA
Já a segunda temporada que estreou dia 9 de outubro desse ano, ou seja, alguns dias atrás, tem como título: A maldição da mansão Bly. Ela é inspirada por um livro que se chama A volta do parafuso de Henry James, que foi publicado em 1898. O livro é responsável por trazer diversos conceitos que já foram bem trabalhados em filmes, séries e até outros livros de terror e é considerado um clássico, quando o assunto é histórias de fantasmas. Aqui, o diretor se inspira na história, mas assim como na temporada anterior, atualiza os conceitos, mas não necessariamente para os dias atuais, e sim para os anos 80. O cenário aqui é a Inglaterra dessa época.
A história segue essa jovem Dani Clayton (Interpretada por Victoria Pedretti que também está na primeira temporada e protagoniza um dos momentos mais marcantes dela) que é contratada por Henry Wingrave (Henry Tomas, outro ator da temporada anterior) para trabalhar nessa mansão que é da sua família e cuidar de seus sobrinhos, que ficaram recentemente órfãos, devido a um grave acidente. A história é narrada pela incrível atriz Carla Gugino, que também está na primeira temporada, mas aqui o nome de seu personagem é revelado somente no final da história. Bom, isso é só uma sinopse, completamente sem spoilers. Mas é importante comentar que a série aqui trabalha muito mais o drama do que o terror, diferente de sua primeira temporada em que os dois estavam lado a lado. Aqui o terror presente é mais clássico, e o seu desenvolvimento é mais ligado a uma história de amor do que qualquer outra coisa, estruturando um certo romance gótico que é muito efetivo. Mas isso não é de nenhuma forma algo ruim, pelo menos pra mim, porque é de se esperar que as temporadas tenham rumos diferentes na hora de desenvolver suas histórias, justamente por ela ser uma série antológica.
Acredito que nem todo mundo compreende isso, e na hora de ver a segunda temporada traz consigo várias expectativas que não vão ser, necessariamente, atendidas. Mesmo gostando mais da primeira temporada ainda, é impossível dizer que essa é uma temporada ruim, ou até mediana, isso porque ela é muito boa, muito bem realizada também, só que de forma diferente. Aqui o assunto principal são os traumas, e como eles podem influenciar a nossa vida, de forma até mesmo inconsciente, fazendo muitas vezes com que a gente corra atrás de algo, sem nem mesmo saber a verdadeira razão.
Aqui o criador e diretor Mike Flanagan só dirige o primeiro episódio, diferente da temporada anterior, mas acho impressionante como que os outros diretores conseguiram deixar a mesma estética de Flanagan que é tão específica, então você nem percebe muito a mudança. O que realmente muda é mais o clima em relação a primeira temporada, acho que na medida do possível, a segunda temporada é até mais “feliz” do que a temporada anterior, e isso se reflete muito na estética também, apesar é claro, do final que é bem agridoce.
“Não podemos contar com o passado. Foi o que eu aprendi cuidando de minha mãe. É parecido com a demência não é? Acho que aprendi muito com isso, ou talvez não. Quero dizer, achamos que está preso nas memórias, mas memórias somem. Poderíamos sumir a qualquer hora.” (A Maldição da mansão Bly)
Bom, pra terminar, as duas temporadas lançadas valem muito a pena. Venho gostando muito da série, sendo uma das minhas favoritas nos dias atuais e vejo ainda mais potencial nela pro futuro. Gosto principalmente porque o terror dela faz parte de sua narrativa. É também ainda mais interessante a forma como os detalhes são trabalhados na série de forma tão minuciosa e como o psicológico de cada personagem é refletido. Poucas séries conseguem estabelecer um estilo tão próprio, com tão pouco tempo de existência. Fica aí a dica que é excelente, principalmente pra essa época de Halloween que a gente tá agora!
E se você ainda não sabe, nós aqui do Zona Vermelha temos um canal no youtube. Na última segunda-feira já foi postado o primeiro vídeo, que é comigo. Nele eu falo sobre dicas de filmes e séries pra assistir nessa época de Halloween, e “The Haunting” tá lá no meio também. Escolhi falar dela aqui no blog hoje pra se aprofundar um pouco mais na indicação e pra aproveitar também o gancho! Se você ainda não viu o vídeo, vá lá ver e aproveita pra se inscrever no nosso canal que vai ter conteúdo de todos os tipos, aliás na terça-feira já tem vídeo novo.
(Texto produzido por Vitor Marques)
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